terça-feira, 7 de outubro de 2008

Diário


O dia foi ter saído caminhar com o cachorro às 9h da manhã e se permitir comer algumas amoras no pé. Aquilo de tingir as pontas dos dedos de roxo a deixara feliz. Estava em jejum e se sentia imensamente realizada por inaugurar o dia com amoras. Colocava-se nas pontinhas do pé para alcançar a mais doce, cuidando para não deixar que nenhuma borrasse o chão. Afinal o dia era, porque amoras.


* * *
O dia quase não foi. Chovia. As amoras maduras pingaram no chão. Sangrou roxo o dia. O cachorro nem sequer saiu da casinha. E quando tudo quase já não era, a mãe percebeu a sua aflição: é preciso ter um bolo em dias de chuva. Ufa, o bolo! Ficou leve ao ver a clara se transformar em neve. O bolo dentro do forno crescia. Estufava o peito. Afinal o dia era, porque bolo de chuva.


* * *
O dia foi adiado para começar mais tarde. Não havia fato para arrancar-lhe da cama. O bolo já servido no café da manhã. As amoras se sendo sem sua atenção. Foi trabalhar. Voltou para a casa sem o dia estrear. De pijama, ainda procurou um fato. Pensou em escrever uma carta ou arrumar a cozinha para a mãe (usaria até bombril para ariar as panelas). Não se encontrou e foi dormir antes do dia acontecer.
Afinal muitos dias são, porque amanhã.


3 comentários:

Unknown disse...

tão melancólico como Edward Hopper... as amoras são assim mesmo...tingem... marcam...
adorei

Giulietta disse...

Hoje faria um bolo de chuva pra você. Amo.

Unknown disse...

Lindo Ju.
no casulo e em queda livre vc faz despertar!
aqui longe nao tem amora...mas tem mta saudade da cor dela.